Sobre Destino

John estava desesperado. Seu aluguel estava atrasado havia meses e o proprietário acabara de dar a última intimada. Era pagar nessa semana ou ser despejado. Sem emprego, sem ter a quem recorrer, a situação era preocupante. Sete dias para pagar era muito pouco tempo. Centro e sessenta e oito horas de tensão.

“O que fazer na hora do desespero?” pensava John. Ficar em casa certamente não ajudaria em nada. Saiu. As ruas não ofereciam solução, é óbvio. Mendigar era uma opção. Poderia render até setenta dinheiros em sete dias. Seria uma boa idéia se John não estivesse devendo dez vezes mais.

Arrumar um emprego também não ajudaria, o dono do apartamente não esperaria. Despejar John era um fato certo para o dono. Seguindo seu trajeto pelas ruas, ele dobrou a esquina e, na quarta parede, viu o que podia ser sua salvação. Um cartaz.

Cabe aqui uma pausa para dizer que não era o cartaz propriamente dito que o salvaria. Ele não era feito de ouro e nem se ofereceu para pagar o aluguel – porquanto era apenas um papel. O que o salvou foi o anuncio escrito. Voltemos a narrativa.

O cartaz anunciava uma competição inusitada. Um altíssimo preço em dinheiro para quem fizesse o maior castelo de cartas. Sim, castelo de cartas! Que tipo de gente faria uma competição absurda dessas? John não se preocupou. Juntou seus trocados e se inscreveu.

Passou o dia seguinte trancado em casa. Aperfeiçoando suas já boas técnicas de empilhar cartas, construir fortalezas inteiras capazes de desabar com um único sopro. Sua média era uma base de quatorze duplas na base; o que explicava, ao mesmo tempo, sua confiança e desemprego.

No dia seguinte treinou castelos criativos. Usando cartas na horizontal combinava arquitetura clássica com baralho moderno. Quase um Oscar Niemeyer de boteco! Um talento incrível nunca antes reconhecido seria revelado ao mundo!

No terceiro dia o proprietário entrou na casa e viu John empilhando cartas. Ele não acreditou que aquilo fosse para pagar o aluguel e lembrou que só haviam mais quatro dias.

Com as habilidades se aprimorando cada vez mais surgiu um problemas para os treinos. Mesmo John, um colecionador de baralhos, não tinha tantas cartas assim. Ainda faltavam dois dias para a prova. Para definir seu futuro, sua vida. Nestes dois dias John projetou coisas no papel, fez cálculos e desenhos, afinal, o grande dia se aproximava. Se algo desse errado, bem, suicídio é sempre uma opção. Mas ele não queria encerrar sua vida ainda. Ele ainda tinha sonhos de ser um milionário vendedor ambulante de guarda-chuvas, ou algo do gênero.

O grande dia chegou. John se encaminhou até o local da disputa e se impressionou com a imensa platéia. Devia haver mais de vinte pessoas assistindo e, contando com ele, haviam quatro concorrentes inteiros! Todos muito nervosos. Aquilo significava muito. Cada um foi fechado em uma sala com câmeras, sem vento e com oito baralhos. Os critérios eram relativamente simples: Velocidade, altura, resistência e criatividade.

O nervosismo tomou conta de John. Suas mãos – sempre tão seguras – tremiam. Respirou fundo e começou. Pelo número de cartas ele já sabia o que fazer. Uma larga estrutura quadrada foi subindo até quase um metro, formando uma torre semelhante a Eiffel. Era um trabalho complexo e que tomou tempo relativamente longo.

Saiu da sala suando frio. Dois dos competidores já haviam terminado. O outro saiu minutos depois. Os juízes revelaram as criações aos competidores. Junto à Torre Eiffel haviam apenas castelos regulares, triangulares e comuns! A vitória foi fácil, teria dinheiro para pagar o aluguel e começar seu negócio de segurança perante aero-águas.

Pegou o cheque e correu para a rua. Iria descontar o cheque na hora e pegar sua dívida. Quando chegou em frente ao banco foi atropelado por um carro desgovernado e veio a falecer.

2 Respostas to “Sobre Destino”

  1. Débora Says:

    Heh, gostei desse. =) Só cuida com erros de digitação nos próximos.

  2. relinked Says:

    Nunca comento aqui, mas eu preciso te avisar que a quebra de expectativa foi previsível. Se você tivesse dito “Pegou o cheque e correu para a rua, no intuito de pagar sua dívida, mas foi atropelado blablabla” seria mais abrupto.

    Keep it up

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